Podemos superar perdas traumáticas somente através do luto?
Ele nos ajuda a superar o sentimento pela morte de alguém. Mas a perda de um filho causa uma dor que vai além do sentimento de tristeza.
O luto varia conforme cultura, a partir da diversidade das crenças em relação à morte. Em algumas, inclui até celebrações, pois se acredita em uma nova dimensão melhor do que a dos vivos. Mas uma perda, que vai contra o natural ciclo da vida, precisa mais do que um luto. Precisa reintegrar a dissociação física e emocional do trauma. Não é suficiente aceitar racionalmente a perda para reiniciar a vida. É necessário incorporar fatores físicos que gerem qualidade de vida, mesmo se convivendo com uma ferida sempre aberta.
Esta é a ideia do Vida Urgente Cidadã, programa da Fundação Thiago Gonzaga voltado para pais e mães que perderam filhos. Ao trabalhar pela preservação da vida, ele abre espaços para que as pessoas possam conformar um novo corpo. Juntas, as pessoas redescobrem o prazer de compartilhar suas vidas, ao cantar no coral, participar do grupo de apoio ou dançar numa aula de Biodança.
Com sua visão inovadora, a Fundação promove uma experiência de qualidade de vida. Com a Biodança, fortalecemos a identidade e redescobrimos uma nova coerência entre corporeidade e afetividade, como formas de se criar alternativas ante realidades traumáticas.
Está comprovada pelas Neurociências a inscrição direta na memória de nossos genes das vivências traumáticas. Logo, é interessante revisitar as experiências de nossos antepassados que usavam músicas e danças em seus rituais de luto. A metodologia da Biodança aproveita esses conhecimentos arquetípicos milenares para regenerar a harmonia perdida ante desafios que superam nossa capacidade racional.
Nesta 1ª Semana Gaúcha do Luto Parental, a mensagem que fica é da importância deste novo olhar capaz de mudar o enfrentamento do luto: “Antes eu não queria mais viver, agora o que quero é dançar”.
Claudio Kraemer
Professor Voluntário de Biodança, Vida Urgente Cidadã