Em 2005, na Assembleia das Nações Unidas, a ONU instituiu o terceiro domingo do mês de novembro como um dia dedicado à memória das vítimas de trânsito. Embora reconheça a importância de movimentos e ações nacionais ou internacionais como estes, confesso que para mim, e com certeza para os pais que tiveram seus filhos arrancados pela violência do trânsito, todos os dias são dias em que a ausência dos nossos filhos é sentida.
Um filho não morre, e é a lembrança de meu Thiago e dos milhares de jovens que perdem a vida nesta guerra previsível e por isso mesmo evitável, que nos motiva a levar permanentemente o trabalho da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga.
O trânsito mata no mundo mais de 1 milhão e 300 mil pessoas, fere e incapacita outras 50 milhões e é a principal causa de morte de jovens entre 10 e 24 anos. Para nós, da Fundação Thiago Gonzaga não são frias estatísticas. Por trás de cada número tem rostos, vidas e sonhos interrompidos prematuramente. O Dia Mundial em Memória às Vítimas foi instituído para garantir que esta tragédia provocada pelo trânsito não seja esquecida e que também seja uma homenagem e conforto a familiares e amigos.
Em novembro do ano passado, a convite da Organização Mundial da Saúde (OMS), participei em Moscou, na Rússia, da I Conferência Ministerial Global de Segurança no Trânsito. Um momento de grande emoção foi a homenagem realizada na cerimônia de abertura, onde o presidente Dmitry Medvedev pediu um minuto de silêncio enquanto um imenso painel eletrônico, mostrava a imagem de 15 jovens que representavam as milhões de vidas perdidas no trânsito. O Brasil estava representado na foto de meu filho Thiago. Fui pega de surpresa, para mim ele é especial, não pode virar um número, uma estatística!
Estamos diante de uma guerra que não condecora e não deixa heróis, mas que tem enlutado milhares de famílias no país. Temos consciência de que os efeitos mundiais são resultado de medidas locais e que as ações efetivas para melhorar a segurança global no trânsito necessitam de vontade política, comprometimento e recursos de todos os níveis. Com a autoridade concedida pela dor, convoco a sociedade para se juntar a nós nesta caminhada em defesa da Vida para que os 50 mil mortos por ano e centenas de milhares de feridos não se transformem em uma fantasmagórica estatística.
Talvez os números, as cifras astronômicas que são gastas com os acidentes de trânsito, impressionem autoridades e dirigentes de nosso país, mas para os pais que viram os sonhos de seus filhos interrompidos, elas são apenas um detalhe. Pois por mais que eu tente quantificar, por mais que me esforce para dimensionar essa saudade, a vida do meu lindo Thiago, não tem preço!
Diza Gonzaga, presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga