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03/02/2015
Uma sentença para todos os brasileiros
Há quatro anos, o jovem Rafael Mascarenhas teve sua vida interrompida ao ser atropelado enquanto andava de skate em um túnel no Rio de Janeiro. O caso de Rafael poderia ser mais um entre os crimes de trânsito em nosso país, que enlutam milhares de famílias a cada ano. Entretanto, na última sexta-feira 23, a justiça carioca condenou à prisão o motorista responsável pelo acidente e seu pai, que não estava no automóvel e foi condenado por pagar propina a policiais.
 
Nestes anos à frente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga acompanhei a luta de centenas de pais na busca por justiça. Infelizmente, na grande maioria dos casos o crime de trânsito é tratado como “fatalidade”, “acidente” sem intenção de matar. Enterramos nossos filhos pela segunda vez, tomados pelo sentimento de impotência. É como se a vida tirada pelo trânsito tivesse um valor menor do que em outros crimes. 
 
Mas mais do que a punição, que certamente abrirá um importante precedente na justiça brasileira, chama atenção a sentença do juiz Guilherme Schilling. A decisão do magistrado pune indiretamente a todos nós, brasileiros, que convivemos anestesiados com a violência motorizada. O texto faz um alerta à sociedade onde ainda impera a “cultura do herói” e o “jeitinho” no trânsito.
 
"Impõe-se uma reflexão sobre o tipo de sociedade que pretendemos para as futuras gerações ou, mais ainda, que tipo de cidadãos somos. Afinal é essa uma das dificuldades atuais da humanidade no plano da ética. De nada vale o Estado reconhecer a dignidade da pessoa se a conduta de cada indivíduo não se pautar por ela”, diz um trecho do texto do juiz. A sentença ainda é mais dura com os pais, como o do motorista envolvido no acidente, ao destacar que acobertando os erros de seus filhos, superprotegendo-os das consequências de seus atos, criam indivíduos incapazes de agir com humanidade.
 
Esta decisão me dá uma injeção de ânimo, pois se o Brasil souber aproveitá-la, certamente seremos um país melhor. Um país onde mais do que leis de trânsito, respeitamos a Lei da Vida.
 
Diza Gonzaga – Presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga