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24/09/2009
"É possível mudar o mundo!" - Publicado no Jornal O Sul, Correio do Povo e Jornal do Comércio

Quando recolhi meu filho Thiago no asfalto, naquela madrugada fria de 20 de maio de 1995, fui tomada por intensos e múltiplos sentimentos, alguns que não sabia se iria suportar. Com o passar dos dias, dos meses, por necessidade de sobrevivência, fui depurando esses sentimentos, extraindo aquilo que era possível e necessário ser superado, e potencializando outros que serviriam para me trazer até o dia de hoje.

 
A perda do Thiago me trouze uma imensa indignação. Por que pouco ou nada se fazia diante dos horrores da guerra do trânsito, que mutila e mata milhares de jovens? Por que não cultuamos e preservamos a vida? Por que as autoridades pouco fazem para impedir que tragédias aconteceçam todos os dias nas ruas e avenidas brasileiras? Por que os pais precisam enterrar seus filhos em uma total inversão da ordem da vida? Será que ninguém enxerga? Basta! Ninguém mais pode passar por esta dor! Vida Urgente! Era o eu que dizia, preciso fazer alguma coisa. No começo não sabia se seria algo para os amigos do Thiago, para meu bairro, ou minha cidade, eu sabia que devia fazer algo, "Eu precisava mudar o mundo", nem que fosse um pequeno e grandioso universo de alguém. Se uma vida pudesse ser salva, já valeria à pena, poderia ser o Thiago, eu pensava. Então em 1996, no dia do aniversário do Thiago, nascia a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga e o Programa Vida Urgente.
 
Mas, não é que a mágica começou a acontecer. Aos poucos o Vida Urgente foi crescendo, as pessoas foram se juntando a nós, a legislação brasileira foi evoluindo, a sociedade foi colocando os acidentes de trânsito na pauta, a OMS (Organização Mundial de Saúde) incluiu o trânsito em suas prioridades, e está a frente de uma grande mobilização mundial, da qual fazemos parte.
 
Hoje os jovens são os que mais usam cinto de segurança e muitos já se organizam para escolher o motorista da rodada, que não vai beber para levar os outros para casa. Mudanças começaram a acontecer. Acompanhei a experiência da faixa de pedestres em Brasília em 1997 e hoje, de iniciativa semelhante da Prefeitura de Porto Alegre. Por todo o Brasil existem ações individuais e coletivas, de professores, crianças, jovens, imprensa, instituições etc. E esta semana tudo ficou ainda mais claro para mim. Quando cheguei ao Espírito Santo, onde em uma parceria com o governo do Estado implantoamos o Vida Urgente Espírito Santo em 2008, e vi o Espaço Vida Urgente tomado por jovens voluntários, as escolas trazendo seus alunos paraassistirem aos espetáculos teatrais que oferecemos, as borboletas circulando nos pára-brisas dos automóveis e dezenas de testemunhos de boas práticas desenvolvidas a partir de nossa motivação, tive a certeza de que está valendo a pena. No Rio Grande do Sul são cerca de 10 mil voluntários; no Brasil, outros 6 mil; mais de 2,5 mil só no Espírito Santo.
 
Nesta Semana do Trânsito os pais do Coral Vida Urgente, estarão no Espírito Santo, onde iniciaremos os encontros dos grupos de apoio para familiares que perderam seus filhos queridos para a guerra do trânsito. Os pais do Espírito Santo, não se sentirão mais sozinhos, como estes outros pais se sentiam antes de conhecer o Vida Urgente e como me senti naquela madrugada fria de maio. Hoje mulheres e homens de bem deste Páis, não se sentem mais sozinhos, eu não me sinto, os voluntários do Vida Urgente também. Em todo o País existem milhares de pessoas unidas em defesa da vida, irmanados na esperança de ver a vida ser prioridade. A todos , rendo minhas homenagens, meu reconhecimento e minha cumplicidade, por eles me dão a certeza de que podemos mudar o mundo SIM.
 
Diza Gonzaga
Presidente da Fundação Thiago Gonzaga