A semana Nacional do Trânsito poderia ser uma data festiva. Poderíamos estar comemorando, talvez, o primeiro ano do índice zero de acidentes fatais. Um trabalho alcançado com a conscientização de todas as pessoas, de que o direito constitucional de ir e vir inclui não ficar no meio do caminho.
Poderíamos estar apenas homenageando quem teve a infelicidade de viver e morrer num tempo em que habilitar-se para a condução de um veículo equivalia a tirar um porte de arma.
Poderíamos participar da Semana Nacional do Trânsito na companhia de nossos filhos. E teríamos a certeza de que, um dia, também eles estariam dando aos seus filhos a educação que nos permitiu transformar em peças históricas as estatísticas de acidentes em nosso país.
Infelizmente não temos muito que comemorar, pois o Brasil é um dos países campeões do mundo em acidentes e mortes no trânsito. A guerra do trânsito, que não tem fuzil, tanque, míssil nem heróis, mata por ano o que a guerra do Vietnã levou sete anos (número de soldados americanos), sendo até hoje uma ferida aberta, um trauma para os americanos.
Não podemos aceitar a idéia de destino, de fatalidade, através da qual a sociedade brasileira isenta-se covarde e mediocremente da carnificina que virou o trânsito em nosso país. Esta mesma sociedade que reage com indignação a assaltos e seqüestros fica anestesiada diante das mortes provocadas pelos acidentes, responsáveis por uma das principais causas de morte de jovens. Um horror provocado pela condescendência geral.
Numa data como esta, fazemos, de fato, uma reverência às vítimas do trânsito. O índice zero de acidentes ainda é um futuro distante. E muitos de nossos filhos não estão mais ao nosso lado.
Diza Gonzaga
Presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga