A madrugada do dia 20 de maio de 1996 poderia ser um momento de dor de pais que perderam seu filho de uma forma trágica num acidente de trânsito. Poderia ser mais um a encorpar as estatísticas de uma guerra que coloca o Brasil, nos dias de hoje, entre os cinco países que mais vítimas fatais produzem. Essa dor virou uma bandeira de esperança para pais e para uma sociedade desejosa de um projeto de vida que defendesse, de uma forma intransigente, o primado da educação como condição para mudar uma cultura.
Começa, por essa lição básica, que agrega hoje milhares de voluntários, uma entrega plena para proteger o bem mais precioso que temos, que é nossa vida. A Vida Urgente, princípio e causa da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, não nasceu numa prancheta de marketing a nos ensinar lições sobre perdas de pessoas a quem amamos, sobretudo filhos. Aquela madrugada se tornou, ao longo desses 15 anos, uma fonte de esperança, um credo para quem a conhece. Os projetos coordenados por uma equipe permeada por juventude, faz da Vida Urgente uma aula de cidadania a céu aberto.
Quem de nós já não passou por uma borboleta branca desenhada em alguma rua de nossa cidade? São as borboletas pela vida a lembrar que estatísticas possuem rostos, nomes, endereços e uma saudade que fica. O que dizer das infindáveis Madrugadas Vivas, ação de abordagem em bares e danceterias, para garantir muitos e muitos momentos celebrativos? Abortar a vida na juventude foge à lei da vida. Lá estão eles, uma juventude de cara limpa, para fazer daquela noite uma declaração de amor pleno ao ser humano. Amanhã tem festa, formaturas, amores construídos e muitos sonhos para serem realizados.
Contadores de histórias chegam à idade da definição de conceitos de ética e cuidado. Estamos falando da infância. A Vida Urgente acredita que é preciso formar uma nova geração a perceber sua finitude ou super-heróis ao volante. Uma brincadeira feita com crianças com uma mensagem voltada também para pais e adultos responsáveis. “Os últimos dias de um super-herói e o Exército de Sonhos” compõem essa trilogia em usar o teatro para trazer a vida para o centro de tudo aquilo que fazemos. Quem assiste, além da emoção que provoca, sai com o compromisso de multiplicar uma cidadania que não tem preço.
Entramos na estrada e lá encontraremos os projetos Transportadora da Vida e Motoboy Vida. É a delicadeza em traçar um olhar para todas as formas de pensar a palavra trânsito. A educação como fonte de mudança de cultura, mais uma vez, se define aqui. Uma cultura impregnada por velocidade, bebida, direção e imprudência não se muda num toque de mágica. É preciso atuação séria de quem cuida dos perímetros urbanos e estradas. É preciso construir, coletivamente, um imenso Exército de Sonhos a defender e proteger todas as vidas.
A utopia de que acidentes de trânsito sejam apenas causados por falha mecânica é uma crença da Vida Urgente. Quinze anos é um tempo para adolescer. Amemos este bem precioso chamado vida. Regis e Diza Gonzaga, abraçamos com vocês a causa da borboleta. Há muito tempo, ela pertence a todos nós.
Carlos Alberto Barcellos
Professor e voluntário da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga