Todos os dias abrimos os jornais e vemos a repercussão da implantação da lei apelidada de “tolerância zero”. Acredito que nem a entrada em vigor do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) em 1998 causou tamanho impacto. Na época, a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga dava os seus primeiros passos, nascemos em 1996 – dois anos antes, e acompanhamos de perto a “grande revolução” que foi a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança, por exemplo. Em 1998 uma lei como essa era quase impossível de ser criada, a sociedade não estava preparada para recebê-la.
Quando começamos o Vida Urgente, tínhamos a esperança de conquistar, de forma pacífica e democrática, avanços na questão da preservação da vida no trânsito e pensei muitas vezes se poderia ver as coisas mudarem ainda em vida. Nunca pensei em tempo, pois temos consciência de que mudanças culturais se constroem a médio e longo prazos.
Gostaria de confessar que hoje me sinto um pouco mais confortável, pois se essa lei foi possível e tem a aprovação da sociedade, é por que construímos isso. Eu, você, os voluntários do Vida Urgente de todo o país, os médicos, os policiais, a sociedade em geral, nós, que viemos de forma muito fraterna chamando a atenção da população para a verdadeira “guerra do trânsito” que é travada todos os dias nas avenidas e estradas brasileiras.
Se os deputados federais e o governo se sentiram encorajados a implantar uma lei de tamanho impacto, é porque sentiram que nos corações de mães e pais de família havia esse clamor, pois eles não arriscariam sua “popularidade” e enfrentariam os múltiplos interesses se achassem que seriam duramente criticados.
As reações são as mais variadas, parece que de uma hora para outra, todo mundo só bebe um cálice de vinho ou come um bombom de licor, aquele consumo abusivo de álcool que vemos todas as noites, quando fazemos a Madrugada Viva ou participamos de festas e eventos, não passou de pura ilusão de ótica, fruto de nossa imaginação.
Para aqueles que ainda duvidam da importância desta lei, destaco o que li em um jornal da capital, quando uma equipe de reportagem acompanhou a trajetória de um jovem de 22 anos autuado por dirigir uma moto, com limite de alcoolemia acima de 0,6 (esse era o limite permitido anteriormente, ele estaria em desacordo de qualquer forma). Talvez se não tivesse sido abordado, ele estaria nas manchetes daquele dia, porém por outro motivo, pois os técnicos sempre afirmam que quando há combinação de mais de três fatores, o risco de acidente é iminente.
Então vejamos: grupo de amigos, à noite, conduzindo motos, um dos veículos com maior risco de acidentes, após consumirem bebidas alcoólicas. O pavio da bomba estava aceso, porém foi apagado a tempo e o final da história: o pai, abraçado ao filho indo para casa, após pagar uma fiança de R$ 400. Um final feliz, eles poderão refletir juntos sobre tudo isso! Quantos pais, assim como eu, pagariam bem mais do que isto, para irem buscar seus filhos vivos, após uma noite de festa? Ah, se existisse uma “Lei da Vida” como essa em 1995, talvez o meu Thiago, que embarcou em uma carona furada, estivesse aqui para ver essa “revolução”.
Minha mensagem aos policias rodoviários, agentes de trânsito, Brigada Militar, aos pais e sociedade em geral, vamos valorizar essa conquista pela vida. O Congresso Nacional fez a sua parte, agora é a nossa vez de lutarmos pelo direito de abraçar nossos filhos.
Diza Gonzaga
Presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga