Foi no mês de maio que recebi o maior presente que uma mãe pode receber: um filho. Mas também foi no mês de maio que recolhi meu filho sem vida no asfalto de uma avenida de Porto Alegre. Diariamente, essa mesma dor incurável é sentida por pais, irmãos, familiares e amigos, que precisam aprender a suportar a perda inesperada de uma pessoa amada pela violência do trânsito.
Cerca de 1,3 milhão de pessoas perdem a vida no trânsito anualmente no mundo – é quase como se uma Porto Alegre inteira deixasse de existir a cada doze meses. Em um esforço para conter esse intolerável número de perdas, a ONU instituiu a Década de Ação pela Segurança no Trânsito em maio de 2011. Ali nascia o Maio Amarelo, mês que passou a ser referência global para chamar atenção à causa. A cor amarela foi convencionada por remeter à noção de atenção no contexto do trânsito.
O objetivo da ONU para a década é desafiador para os governos e a sociedade: reduzir em 50% a projeção de mortes até 2020. No Rio Grande do Sul, embora observemos uma clara tendência de queda se considerados os últimos dez anos, não há o que se festejar. São muitas vidas, grande parte delas de jovens, perdidas em circunstâncias na maioria das vezes evitáveis, derivadas de comportamentos de risco.
Ao Estado cabe tratar a questão de maneira consistente e continuada, com ações de prevenção calcadas na empatia e sensibilidade absolutas. Já aos motoristas, caronas, motociclistas, pedestres e ciclistas, cabe a compreensão verdadeira dos riscos envolvidos nessa teia de relações fugazes, mas potencialmente danosas, que representa o trânsito. Não podemos ter descanso, seja em maio ou em qualquer outro mês, seja nesta ou em qualquer outra década. O sinal amarelo continua aceso, e piscando, diante dos nossos olhos. Tenhamos todos atitude!
Diza Gonzaga
Criadora da Fundação Thiago Gonzaga e Diretora Institucional do Detran-RS
*Artigo publicado no jornal Zero Hora em 8 de maio de 2019