Nestes últimos anos, desde que iniciamos o trabalho com a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, tenho tido a oportunidade de conhecer diversas cidades e países, tendo uma experiência rica das diferentes formas que cada povo se relaciona e interage com o trânsito. Infelizmente, embora o nosso Brasil seja um país de cultura diversificada e encantadora, também somos o país onde a cultura da valorização e preservação da vida não é uma prioridade.
Muitos de vocês talvez nem saibam, mas de 18 a 25 de setembro acontece a Semana Nacional de Trânsito. Uma semana dedicada à redução dos acidentes. Falando assim parece muito, mas para nós, que diariamente enfrentamos essa guerra motorizada, é pouco. Muito pouco. Essas datas são necessárias para alertar a sociedade, pois precisamos de programas e governos comprometidos com a preservação da vida no trânsito, para mudar nossa cultura e comportamento, tirando nosso país do terrível ranking da morte.
Este ano, o tema da Semana Nacional de Trânsito é “Cidade para as pessoas: Proteção e Prioridade ao Pedestre”. Considerando que em 2013 os atropelamentos corresponderam a 42% dos acidentes com vítimas fatais em Porto Alegre, está mais do que na hora de priorizarmos o pedestre.
Mas para vocês, jovens, quero propor uma reflexão ainda maior. Há algum tempo, o sonho da maioria dos adolescentes era fazer 18 anos para poder tirar a carteira de habilitação e ganhar o primeiro carro. Hoje, já vemos movimentos contrários. Muitos jovens-adultos estão optando por não ter seu carro particular, investindo em transportes alternativos como as bicicletas, skates e mesmo o transporte coletivo; assumindo prioritariamente a posição de pedestres no trânsito.
Entre os países que conheci estão alguns com os menores índices de acidentes. O que eles podem nos ensinar? Que um trânsito mais humano só será possível quando compreendermos que cada um dos atores do trânsito tem seu espaço e que a melhor e mais segura legislação é o respeito ao próximo. Em muitos deles ônibus, carros e bicicletas compartilham o mesmo espaço, sem grandes separações, apenas sinalizações de faixa. Pude conhecer diversas Universidades e seus estacionamentos repletos de bicicletas, ao contrário do que vemos no nosso país.
No Brasil, em que as políticas públicas priorizam há tanto tempo os automóveis, temos sim que exigir investimentos nas vias alternativas. Mas com a experiência de quem está há 18 anos a frente do Vida Urgente, afirmo que além de infraestrutura, precisamos cobrar programas permanentes de EDUCAÇÃO.
Em vocês, jovens universitários, deposito minha esperança. Quebrem esse ciclo de violência no trânsito como cidadãos e porque não, futuros gestores públicos. Só com educação para o trânsito – e para a vida – conquistaremos uma cidade segura e viva. Uma cidade verdadeiramente para as pessoas.