Nesta semana, as atenções do mundo estarão voltadas para o Brasil, onde acontecerá em Brasília a 2ª Conferência Mundial sobre Segurança no Trânsito. Isso me fez voltar ao tempo quando, com muita emoção, surpresa e até assombro vi o rosto do meu filho Thiago estampado em um imenso painel na abertura da 1ª Conferência, que aconteceu em Moscou em novembro de 2009.
Nesta conferência, em que o presidente da Rússia pediu um minuto de silêncio em memória às vítimas de trânsito no mundo e o nosso Brazil (sim, com Z) foi representado pelo rosto do meu jovem e amado filho, foi aprovada por mais de 150 países a proposta da “Década de Ação pela Segurança no Trânsito”. Em abril do ano seguinte, na Assembleia Mundial da ONU, foi ratificada a proposta e lançada a Década de Ação que tem como principal objetivo a redução em 50% das mortes no trânsito no mundo até 2020.
Passados 5 anos, o mundo tem se desdobrado para cumprir esta meta, e os resultados já começam a aparecer. Segundo relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) publicado neste mês de outubro, o número de acidentes estabilizou e caiu em 79 países. Infelizmente, no nosso Brasil, a taxa de mortalidade no trânsito subiu de 18,7 para 23,4 por 100 mil habitantes. E já se aproxima dos países africanos que detém o título de trânsito mais perigoso do mundo, com taxas de 26,6 por 100 mil habitantes.
Nossas leis, entretanto, foram consideradas adequadas e algumas delas como a proibição de álcool x direção, a Lei Seca, receberam notas favoráveis na sua implementação. Exemplo disso é o Rio Grande do Sul, que embora seja o estado onde o consumo do álcool inicia mais cedo, aos 12 anos, tem na capital Porto Alegre, o menor índice de mistura de álcool x direção entre as capitais brasileiras. Certamente o trabalho de educação e conscientização que temos feito há quase duas décadas, aliado à fiscalização tem sido decisivo para este índice positivo.
Isto nos dá a certeza de que mais do que produzir novas leis, precisamos fazer com que as leis sejam cumpridas, com uma fiscalização eficiente e punição. Afinal, sabemos que a impunidade é também responsável por esta verdadeira guerra que acontece diariamente nas nossas ruas, avenidas e estradas, e que coloca o Brasil entre os 5 países mais violentos e que mais matam no trânsito do mundo.
Neste momento em que estamos com os holofotes voltados para o nosso país e para a violência no trânsito, é fundamental que nossos governantes assumam verdadeiramente o compromisso com a Década de Ação pela Segurança no Trânsito, com programas permanentes de educação e não apenas campanhas pontuais às vésperas de feriados.
É na educação que nós da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga apostamos, para que num futuro não tão distante possamos lembrar estes números, que hoje nos envergonham, como uma triste recordação de uma época em que a doença chamada “trauma trânsito” é responsável pela principal causa de morte de jovens no país e que ceifa por ano a vida de mais de 50 mil brasileiros.
Diza Gonzaga
Presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga