Há alguns meses recebemos nos Grupos de Apoio para Pais da Fundação Thiago Gonzaga, o casal Ronei e Tatiane. Não tenho como não voltar no tempo e lembrar do quanto todos nós gaúchos, ficamos sensibilizados e até mesmo horrorizados com o caso conhecido como “Gang da Praça da Matriz”. O requinte de crueldade no assassinato do jovem Alex Thomas é o mesmo que agora vemos na morte do jovem Ronei Junior.
O que mais espanta e agride a todos nós, que lutamos pelo nosso bem maior que é a vida, é a repetição de mortes que poderiam ser evitadas se a sociedade tirasse destas tragédias a lição mais importante que um povo, uma nação que se diz civilizada, poderia aprender: jamais se conformar com estas mortes injustas.
Nos Grupos de Apoio recebemos centenas de pais que perderam seus filhos para todo tipo de violência, cada vez mais presentes no nosso dia a dia: assaltos, balas perdidas, e os crimes de trânsito. Sim, digo crimes porque não podemos mais aceitar que pessoas em alta velocidade, embriagadas, tirem a vida de outras como se fosse apenas uma fatalidade, um “acidente”.
Mas o que hoje me faz dividir com vocês está reflexão, é a pergunta:
Até quando vamos suportar enterrar nossos jovens e amados filhos?
Até quando vamos suportar ficar “Órfãos” de filhos?
Uma perda que nem nome tem, pois deveria ser proibido os filhos partirem antes dos pais. O que dizer para o Ronei e a Tatiane, ao Clóvis e a Nara, ao Ademir e a Aglay, à Marilene, ao Milton e a Matilde e a centenas de pais e mães que chegam até a Fundação em busca de um conforto, ou até mesmo para saber como fazer para sobreviver a este verdadeiro tsunami que é perder um filho.
O que dizer?
O que fazer?
Convido nossos governantes, as autoridades, os pais que estão com seus filhos ao lado, para que juntos possamos fazer uma reflexão e achar uma saída para que esta perda, que não tem reparo, que não tem superação, a não ser o “aprender a conviver com ela”, tenha um fim. Ou que pelo menos, que possamos voltar a acreditar que num futuro não muito distante, isto que estamos vivendo hoje não passará de uma lembrança que ficou no passado, e que todos os pais terão o direito assegurado de receber seus filhos sempre com vida.
Diza Gonzaga – presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga
*Publicado no jornal Zero Hora em 16.01.2016