Diante de um mês de setembro trágico no trânsito e da grande mobilização da sociedade na tentativa de evitar novas tragédias, não poderíamos deixar de manifestar a nossa opinião, muitas vezes solitária, em defesa de uma mudança drástica em nossa cultura.
Desde o início de nossa caminhada, há oito anos, temos insistido que a questão do trânsito, mais do que um problema de secretarias de Transportes, polícias rodoviárias, é uma questão de educação. A repressão só é necessária em uma sociedade que não educa.
Fica muito fácil culpar os governos, que como donos do sistema, têm a responsabilidade de despertar a discussão na sociedade.
Quando batemos insistentemente na tecla da educação não estamos falando de uma educação formal, do tipo Moral e Cívica, ou do velho hábito de distribuir cartilhas coloridas para as crianças ou, ainda, da elaboração de projetos técnicos em que a população não participa e sequer entende os objetivos.
Educar é convocar os pais a não darem o exemplo quando levam seus filhos a festas, bebem e na saída pegam o carro para voltar para casa com a família. Mais vale um exemplo do que mil palavras.
Educar é convocar a sociedade a cumprir a lei que diz que é proibido fornecer bebidas alcoólicas para menores. Quantas vezes presenciamos menores consumindo bebidas alcoólicas com a observação e o consentimento dos adultos?
Educar é não sair com o filho, menor de idade, para ensiná-lo a dirigir e ainda deixá-lo dar umas voltinhas pela vizinhança.
Educar é não permitir que um amigo ou parente, visivelmente alcoolizado, retorne para casa dirigindo, muitas vezes com a família e os amigos na carona.
Educar é ter uma conversa franca com as pessoas a nossa volta sobre a importância da vida e que velocidade, lembrando que velocidade, bebida e direção não combinam.
Fiscalização só não basta, a não ser que tenhamos “um policial em cada esquina”.
Educar é não chamar o motoboy em cima da hora e pedir para que ele chegue em cinco minutos ao destino. Isso é induzi-lo ao suicídio.
Educar é não ofender com palavrões e gestos os condutores que procuram respeitar a velocidade da via. Quantas vezes fazemos isso com os filhos na carona?
Não colocar o cinto, tentar subornar o policial no momento que é flagrado em condição ou velocidade irregular, servir bebida alcoólica aos parentes e amigos que vão de carro a nossa casa, parar na estrada para “tomar uma gelada”, são hábitos incorporados pela sociedade e grandes responsáveis por esta guerra.
Os governos, de modo geral, têm se mostrado incompetentes para tratar do assunto, mas jamais esqueçamos que os governos são formados de pessoas que, como nós, sofrem a influência desta cultura. O Governo não é algo distante de nós.
A solução para o problema do trânsito não está no vizinho, mas, dentro de cada um de nós, em nossos gestos, em nossas opiniões, mas acima de tudo no exemplo.
A Fundação Thiago Gonzaga assumiu, desde o início de sua caminhada, a responsabilidade de trazer essa reflexão à sociedade e tem sido fiel a este objetivo.
Nunca procuramos chamar para nós a autoria dos avanços conseguidos, mas temos a certeza que muitas vidas foram salvas com a nossa mensagem.
Evitar os acidentes de trânsito deve ser um compromisso de todos, não só nos feriados mas todos os dias. Esse objetivo deverá estar presente quando saímos para nos divertir, quando levamos “as crianças” na festa, quando nos deslocamos para o trabalho, para a escola, quando viajamos e até quando recebemos os amigos em casa.
“Não queremos comover a sociedade, não desejamos que ela tenha pena daqueles que, como nós, perderam alguém que muito amavam nesta guerra do trânsito, queremos é que ela reaja e que tenha dignidade de assumir sua parte na mudança desta situação.”
Diza Gonzaga – Presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga