Temos de partir da premissa de que há muito vem ocorrendo uma confusão entre “educar” e “informar”. Em sua grande parte, as campanhas institucionais mais informam do que educam, pois são desenvolvidas para dar “publicidade à legislação”. Elas informam os pedestres e motoristas de que o correto é atravessar na faixa de segurança, obedecer aos sinais, usar cinto etc. No entanto, todos somos sabedores de que faixas de segurança e semáforos só existem nas ruas centrais e principais avenidas, nos bairros residenciais elas são praticamente inexistentes.Os sinais de trânsito e o número de pontos para cada infração cometida são fator comum nas campanhas institucionais, e sabemos que não é o desconhecimento da legislação que causa a grande maioria dos acidentes e sim o comportamento reinante de que lei não pega, de que é gostoso desrespeitar as regras, de que “a adrenalina de um veículo a 200 por hora é o que há de mais legal”, a conversa de que “só tomei dois copinhos de cerveja e estou bem, até dirijo melhor quando bebo”, essa cultura de ter de provar que é melhor, que sua moto e seu carro são mais velozes. O que mata no Brasil é a cultura, a manha, o jeitinho, o faz-de-conta. O Brasil brinca de tratar com seriedade a “guerra do trânsito”. Pois para cada propaganda de conscientização existem outras dezenas incitando a velocidade.
O primeiro passo para desenvolver ações eficientes de educação para o trânsito é fazer uma análise dos trabalhos que já vêm sendo desenvolvidos. Por todo o Brasil existem milhares de “escolinhas de trânsito”, desde as mais modernas até as mais modestas com carrinhos elétricos ou modelos de plástico, porém todas têm a mesma metodologia, colocar a criança na condição de motorista e mostrar-lhe como respeitar a sinalização. Entendemos que é preciso refletir melhor sobre esta forma de educação:
Será que isto não incentiva a criança, desde pequena, a querer conduzir um veículo?
A Fundação Thiago de Moraes Gonzaga acredita que é preciso investir pesado em atividades educativas que visem colocar a criança em uma posição adequada à sua condição de pedestre, passageiro, ciclista, skatista. Devemos rever a paixão pelo automóvel, que ajudamos a desenvolver desde pequenos, em nossos filhos, essa paixão auxilia na queima de etapas importantes do desenvolvimento de toda criança e adolescente, pois o aprendizado para conduzir veículo só deve acontecer a partir dos 18 anos.
A luta para vencer a “guerra do trânsito” é uma batalha a médio e longo prazo e é preciso políticas públicas permanentes e duradouras, muitos governantes estão mais preocupados com a “próxima eleição do que com a próxima geração”, e esse equívoco faz com que considerem a pintura de faixas de segurança como educação.
A complexidade da cultura de trânsito enraíza em nossa sociedade faz com que todos precisem ser educados para o trânsito, desde a criança até os motoristas mais antigos, que têm dificuldade de se adaptar à nova realidade.
Sem a pretensão de apresentar uma fórmula definitiva para combater a violência no trânsito, buscamos, através da participação de jovens, educadores, pais, refletir e elaborar propostas e ações que contribuam para substituir aquelas que já tragaram tantas vidas prematura e inutilmente.
Diza Gonzaga – Presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga