“Que país é este?” – Publicado em Zero Hora

Que país é este?

Ao ler a Zero Hora desta quarta-feira, a música  de Renato Russo me veio à memória. Na capa, a manchete: Sem pardais, dobra o número de acidentes em estradas estaduais. A justificativa é que os controladores de velocidade não foram instalados pela demora em concluir o edital de licitação. Continuando a leitura, com diferença de poucas páginas, duas reportagens me chamam a atenção por sua contradição.

Enquanto em Brasília o Senado aprova mais rigor para a Lei Seca – que para nós é a Lei da Vida, pelas milhares de vidas que foram poupadas em acidentes de trânsito no país – aqui no Rio Grande, a notícia de que por 30 votos a 9, a Assembleia Legislativa revoga  lei de 2008, do Deputado Miki Breier, que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos estádios e já reduziu, segundo dados da BM, 70% das ocorrências.

Se sabemos que os grandes vilões do trânsito são a velocidade e a mistura letal de bebida e direção, como podemos conviver com a incoerência de nossos políticos e governantes? Se por um lado fazem campanhas contra o excesso de velocidade e a ingestão de bebidas alcoólicas e por outro, “lavam as mãos” para a carnificina que acontece diariamente em ruas, avenidas e estradas de nosso país.

Afinal, que país é este? Até quando continuaremos sendo o país do “jeitinho”, em que a cada situação, conforme a conveniência, mudamos os rumos, mudamos as regras e até damos “férias” à lei.

Como pode uma Lei tirar férias? Estamos abrindo um perigoso precedente quando revogamos ou flexibilizamos uma lei. Como passar aos nossos filhos e netos que somos um país sério, quando nossos representantes colocam interesses acima da lei, acima do bem comum, acima da VIDA.

Os problemas do trânsito no Brasil já estão identificados. Aliás, em 1996, há 16 anos quando iniciamos nossa caminhada com o Vida Urgente, já tínhamos a informação dos locais, dia, hora e até as causas que motivam os acidentes de trânsito. Só não sabíamos o nome e o sobrenome da próxima vítima. O que temos de novo é que essa epidemia silenciosa, que antes ficava restrita às famílias atingidas pela violência no trânsito, hoje é uma preocupação da sociedade e umas das prioridades da Organização Mundial da Saúde.

Cabe mais uma vez à sociedade, mostrar sua indignação contra este “jeitinho” e que o tão falado dia 21, marque o fim de um tempo que não queremos mais para nosso país; o tempo do descaso, da negligência, da impunidade…

Diza Gonzaga

Presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga

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