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04/12/2007
“Até Quando?” - Publicado no Jornal Zero Hora

Na manhã de sábado, fui acordada com a notícia de que um acidente grave, envolvendo jovens irmãos gêmeos, havia ocorrido em Porto Alegre. Queriam saber minha opinião. Confesso que o primeiro sentimento que me invadiu foi de impotência, o que me levou a novamente juntar papel e caneta (ainda sou do tempo antigo, não me habituei ao computador) e escrever esta opinião.

 
Pensei em meu filho Thiago, que embarcou em uma carona sem volta, pensei nos pais desses meninos e nos outros familiares, que foram acordados com uma notícia de derrubar p mais forte dos gigantes e também em todos aqueles que, assim como eu, estão se preparando para passar mais um final de ano com a saudade. Lembrei do Nicolau e da Kátia, que perderam o Lucas. De apenas 16 anos, em um 24 de dezembro, dos pais do Gabriel, que vão passar o primeiro Natal sem ele, e de tanto outros para os quais o mês de dezembro é ainda mais dolorido.
 
Lembrei de nossa semana na Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, que retornei de Vitória (ES), onde fomos dar os primeiros passos da parceria para implantar o Vida Urgente naquele Estado; do congresso de psicologia que participei na terça-feira em Curitiba; do Selo Transportadora da Vida, uma parceria com o Sindicato das Empresas de Transportes e Cargas no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), que ocorreu na quarta-feira. Foi uma semana muito corrida. Na quinta-feira, reuni nossa equipe para avaliar o Vida Urgente no Palco e a superação de metas de mais de 20 mil crianças e adolescentes que passaram por nossa sede este ano e, para finalizar, na sexta-feira, em nosso encontro semanal para conversar sobre a semana e projetar a próxima, comentamos o quanto cada um dos membros de nossa equipe era importante para dar mais eficiência ao nosso trabalho e atender com qualidade as inúmeras pessoas que nos procuram todos os dias.
 
Comentava que 2008 seria ainda de muito trabalho e que precisaríamos contar ainda mais com cada um. Antes de sair da fundação, por volta das 19h, ainda passei no bazar que estamos realizando, com os trabalhos confeccionados nas oficinas de arte da fundação por mães que, assim como eu, perderam seus filhos, e comprei algumas coisinhas para decorar a casa (o Thiago adorava essa função de decorar a casa, montar pinheirinho etc.). Terminei a semana exausta, mas motivada para ir mais adiante, muito mais.
 
Aí chega o sábado e vem essa notícia. Penso: não é possível! O que precisamos fazer mais? O que precisamos dizer ou fazer para que pessoas valorizem suas vidas, que não conduzam em alta velocidade, não dirijam após consumir bebidas alcoólicas, coloquem seus filhos em cadeirinhas, usem o cinto de segurança, gestos tão simples, mas extremamente significativos para a preservação de vidas. Até quando vamos ouvir “gritos às margens da Ipiranga”? Até quando nossos filhos não vão voltar para casa após as festas? Não podemos continuar assistindo a isso tudo parados. Vamos fazer alguma coisa, nós, na fundação, vamos fazer mais, vamos nos esforçar para fazer ainda mais, superar o limite de nossas forças. Mas precisamos de você, que nos lê agora, precisamos de seu apoio, que você chame seus amigos, filhos e familiares para uma conversa séria.
 
Chegamos ao período de formaturas, festas das empresas, viagens para a praia, confraternizações de famílias. Não vamos transformar esses momentos em tragédias. Vamos mostrar o quanto podemos ser civilizados e cuidar de nossas vidas e das de quem amamos. Não incentivem mais aqueles que se sentem orgulhosos por andar em alta velocidade e se consideram “braço”, os “donos da direção”, eles merecem nossa repreensão e não elogios. Aos que bebem e dirigem e acham “que dirigem melhor bêbados”, devemos mostrar o quanto esse comportamento é irresponsável e egoísta, pois não valoriza sua vida e nem a de quem está na sua carona. Aos pais um recado muito importante: mais vale um exemplo do que mil palavras.
 
 
Diza Gonzaga - Presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga